Lítio

ROMANCE, 2005, 2ª EDIÇÃO

Desesperado, o protagonista de “Lítio” liga para o Centro de Apoio à Vida. Ele quer confessar seu pecados antes de se matar — ou, talvez, queira apenas buscar alguma palavra que consiga evitar esse final drástico.

O grande problema é que ele é atendido por uma funcionária que também está no limite. E agora ela, suprimindo todos os seus instintos, vai tentar salvar a vida dele ainda que não veja muito sentido em sua própria vida.

Será que ela conseguirá? Será que ele quer ser salvo? Quais serão as consequências desse improvável encontro entre almas que operam no limite das suas existências?

Coalhado de referências pop e ironias das mais diversas, escrito numa linguagem nervosa e pulsante, “Lítio” embarca o leitor numa sinuosa viagem por sentimentos extremos num mundo que acaba de testemunhar reviravoltas sombrias como o Onze de Setembro.

Retrato de uma época em que as emoções estavam à flor da pele, “Lítio” traz um panorama amplo, por vezes pessimista, por vezes esperançoso, de um mundo pré-internet. Um mundo em que, surpreendentemente, as conexões entre as pessoas eram ainda mais superficiais.

Trecho de “Lítio”

Mais um pequeno segredo sobre sua personalidade ímpar: deixou de assistir a um documentário sobre os campos de concentração da Segunda Guerra no History Channel para assistir à videografia de Madonna na MTV. Nossa, vocês dirão, que fútil. Ou ainda: opa, peraí, não há nada de mais nisso. Sim, não há. Pra você e pra maioria das pessoas. Mas pra ele, há. Há tudo de errado. Porque Madonna é o retrato perfeito do que a superficialidade ególatra deste fim de século XX deixará de legado ao século XXI.

Seremos todos, podem acreditar, bissexuais, cheirados, com tendências sadomasoquistas (e exibicionistas, e narcisistas, e megalomaníacas), além de sermos adorados por um séquito de babacas ainda mais raso que nós simplesmente por termos coragem de mostrar o que sentimos, mesmo que este sentimento seja antissemitismo, ou nojo dos pobres, ou total falta de interesse pelas emoções alheias. Em suma, a egolatria do século XX vai transformar as pessoas do XXI em um bando de Madonnas que só se sentem realmente felizes quando aparecem na tevê com um novo corte de cabelo que será invariavelmente copiado à exaustão por todo o mundo.

Exatamente por pensar assim que ele se sentiu tão mal ao assistir à videografia da adorada Maddie – mesmo achando o clipe de “Express Yourself” uma ala de cinema, e também adorando a coreografia do clipe “Vouge” e sua textura em preto e branco, e também achando simplesmente do caralho a simplicidade irritante do clipe “Human Nature” que deu um produto final tão artisticamente rico e os efeitos especiais de “Frozen” que já não são tão especiais hoje em dia, mas que continuam causando impacto.

Resumindo (se é que dá pra resumir): ele se sente culpado por ter se vendido.

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